Miguel Mósca Nunes
09.01.23
O aproveitamento, ou, se quisermos, o açambarcamento da res publica, dura há anos. A diferença é que se tornou visível, nomeadamente através da comunicação social, que tem tido um papel fundamental ao impedir, ou, pelo menos, mitigar, a cegueira colectiva.
Contudo, não é suficiente, porque há um mal maior. Uma letargia associada à falta de conhecimento e de cultura e a condições de vida que geram exaustão e pouca vontade para intervir, isto é, para exercer a chamada cidadania activa. É desonesto dizer-se que a responsabilidade pelo estado de coisas é do povo, porque a miséria material e intelectual é mantida, precisamente, pelos políticos.
Tudo isto, associado à elevada abstinência, é muito conveniente para os poderes públicos e quem neles habita e se move, que só quer que as negociatas, e os proventos e estatuto que delas advêm, passem despercebidos, disfarçados e, sobretudo, intocáveis.
As inúmeras demissões dos últimos dias são sintoma da lama que escorre da governação mas, infelizmente, não são cura. A grande porca, tão inteligentemente ilustrada pelo Bordalo, continua a alimentar os porcos.
É lamentável que, a par deste estado de graça, desta manutenção do fausto das elites políticas, haja o sacrifício de tanta gente que merecia muito melhor.
O que resta da democracia? Muito pouco…