Miguel Mósca Nunes
12.10.22
O Amor preenche-nos, não nos deixa cair, cuida de nós, e isso vê-se.
Vê-se no pão de que mais gosto para o pequeno-almoço e que tu não te esqueces de comprar, no telefonema diário, assim que chego ao trabalho, mesmo que nos tenhamos despedido há meia hora atrás, só para saber se está tudo bem. Vê-se no teu ar de aflição, se desconfias que me estou a sentir menos bem.
O que seria se não nos tivessemos encontrado, há quase quarenta anos, numa turma de gente que estava à procura de si, de se encontrar, se saber qual seria o seu papel neste mundo complicadíssimo. Gente com esperança, gente boa que se esforçava por atingir bons resultados, outros nem tanto, cheios de crenças que os faziam tomar atitudes de perfeita imbecilidade, a que hoje se chama assédio ou bullying, e que, provavelmente, mantêm a idiotice, passados estes anos todos.
E lá estávamos, nesses curiosos e difíceis, mas encantadores, anos oitenta, sem nos passar pela cabeça que um dia casaríamos e teríamos filhos. Uma professora de Geografia atirou, um dia, essa piada. E nós, a rir, ao mesmo tempo que rejeitávamos veementemente essa ideia absurda, não imaginávamos...
A inexorabilidade do tempo, que é uma coisa muito cruel, mas que não pode ser alterada, levou-nos ao presente. A este curioso e difícil, mas maravilhoso, presente.
E se esta nossa história vai ficando diluída na lufa-lufa insuportável do dia-a-dia, às vezes calha olhar para ti, e é quando te reencontro, nesses teus olhos únicos que são a minha pátria. E tudo se apazigua, porque tu és o meu Amor, para sempre.