Miguel Mósca Nunes
24.10.24
O Marco Paulo era a Voz, mas era muito mais do que isso. No único contacto que tivemos, foi um querido, amável e interessado no que lhe tínhamos para dizer. Por detrás das câmaras era o Marco, interessado pelo outro, em ouvir o outro, em olhar para o outro. E tinha, por acaso, um vozeirão de arrepiar.
Estávamos no intervalo, à espera para actuar, no seu jardim, onde decorriam as gravações do “Alô Marco Paulo”, um pouco afastados daquele pequeno palco de madeira e, de repente, ouvimo-lo cantar. Sim, o Marco Paulo, a canta a capella, sem microfone, a brindar aquelas trinta e poucas pessoas que estavam a assistir ao programa, o chamado “público”, com uma voz que não parecia sair dele, dada a projecção e potência. Nós estávamos mais afastados, a cerca de trinta metros, mas era como se estivessemos ao seu lado. “Rita, é o Marco Paulo que está a cantar!”.
Passados uns longos e ansiosos minutos gravámos o que lá fomos cantar. Cantar para o público ali presente e para a audiência do programa, mas, sobretudo, para ele. E esta certeza vem do que ouvimos a seguir, quando nos entrevistou, e no que nos disse depois, quando as câmaras não estavam a gravar. Volto a dizer, foi um querido, e deu-nos a imagem do que é ser um grande artista: humilde, simples, amável… boa pessoa.
Uma boa pessoa que, por acaso, tinha a melhor voz masculina que Portugal alguma vez ouviu.