Miguel Mósca Nunes
11.10.22
Haruki Murakami é uma das minhas últimas e deliciosas descobertas. Apresenta-nos uma escrita simples mas pungente e densa, que nos leva para a vida de cada uma das personagens sem qualquer dificuldade. Os dilemas da juventude são retratados, neste Norwegian Wood, de frente, sem peias, sem rodeios, e a sensação que percorre o livro é a de que somos amigos íntimos e confidentes de Toru Watanabe.
As referências musicais e literárias são uma constante: desde logo aos Beatles, a Tom Jobim (Garota de Ipanema) ou a Brahm’s (quarta sinfonia), a Thomas Mann (A Montanha Mágica) ou a F. Scott Fitzgerald (O Grande Gatsby), o que nos aproxima mais ainda da narrativa e nos faz imergir na história.
Os tempos de escola e de estudo, os dilemas da adolescência e a entrada abrupta na idade adulta, são as linhas centrais desta história. É um livro extremamente actual, embora tenha sido lançado em 1987 e a sua acção decorra no final dos anos 60, falando dos estudantes, da vivência nas residências universitárias, das amizades aí construídas e dos encantamentos e desilusões amorosas. Existe sempre a sensação de não pertencer a lado nenhum, a nenhum grupo, a ninguém. A incerteza, o estar à deriva, sem rumo. E não estamos livres de haver um acontecimento que nos marque, e condicione, para sempre.
É daqueles livros que se deseja que não chegue ao fim, e cria a vontade de ler mais obras deste autor.