Miguel Mósca Nunes
08.10.22
Há um livro que li há muitos anos atrás, em adolescente, e que me marcou profundamente, sobretudo por ser um retrato duro da sociedade americana (escrito em 1967), baseada no culto da aparência e na procura do estatuto social, alicerçado no sucesso profissional, que traduzia a valorização exacerbada do materialismo. Coisa não muito diferente do que se passa actualmente.
A escrita é fluída, consistente, acessível e marcada por uma crueza surpreendente para a altura em que foi escrito, chocante para um leitor um pouco imaturo na altura em que o leu.
Elia Kazan, o escritor deste livro e o brilhante realizador do filme com o mesmo nome, co-fundador do famoso Actors Studio, revelava ser um contador de histórias desconcertante e provocador, e foi, por isso, um dos maiores motores da viragem do cinema americano, na abordagem de temas contemporâneos, de cariz modernista e realista. Nas palavras de Stanley Kubrick, ele era o melhor realizador americano, capaz de operar verdadeiros milagres nas interpretações que conseguia tirar dos actores (nomeadamente, através do “método”).
Quanto à história, será o leitor a descobri-la. Como pontos fortes para aguçar a curiosidade, são de salientar a vertigem da personagem central, entre uma vida familiar estável e uma outra, obscura e paralela e a desconstrução de uma felicidade aparente e superficial, baseada na futilidade e no materialismo, sem qualquer sentido mais profundo. Outro ponto muito forte reside na dificuldade que terá de encontrar o livro. Provavelmente, conseguirá comprá-lo através da net ou num alfarrabista, usado, é claro. Para quem tem prazer em procurar livros, é indescritível.
Quando o encontrar, tenho a certeza de que não vai conseguir parar de ler.