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Lately

Histórias, opiniões, desabafos, receitas...

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Histórias, opiniões, desabafos, receitas...


Miguel Mósca Nunes

03.11.24

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O Mago, o segundo arcano maior do tarot, a carta com o número um, que marca o início, a força e a coragem, é outra extraordinária carta do tarot, neste caso de Rider Waite Smith, sobretudo porque contém todas as habilidades, talentos, e criatividade, para se poder avançar. É uma carta de certeza e de confiança, porque se está munido das ferramentas necessárias para o sucesso, para o empreendedorismo. Podemos observar a presença de todos os elementos primordiais, Fogo (paus), Terra (ouros), Ar (espadas) e Água (copas), que correspondem aos quatro naipes dos arcanos menores. Traz, portanto, uma visão optimista para a tomada de decisão de avançar ou para a situação em concreto. Tudo se vai resolver, porque existem todas as ferramentas para isso. Siga a intuição para dar o passo e fazer acontecer.

Podemos igualmente ver o simbolo do infinito, que representa proteção espiritual e o que é ilimitado, a eternidade, a junção do físico e do espiritual, um movimento eterno de nascimento e morte. Também podemos ver esta ligação do espiritual com o físico ao observarmos a figura, que aponta com o seu braço direito para cima, tendo nessa mão um bastão, e com o indicador da mão esquerda para baixo.

A carta contém outro simbolo de eternidade, o Oroboros, o cinto que a figura está a usar, que costuma ser representado por um círculo, o que parece indicar, além do eterno retorno, a espiral da evolução, a dança sagrada de morte e reconstrução. Simboliza o ciclo da evolução voltada para si mesmo. O símbolo contém as ideias de movimento, continuidade, autofecundação, em consequência, eterno retorno.

Este arcano evidencia que o consulente tem todos os recursos necessários para ganhar mestria sobre o mundo físico, material, e para ultrapassar os obstáculos. O Mago é uma figura de autoridade que tem o poder de fazer o bem, de forma correcta.


Miguel Mósca Nunes

02.11.24

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A origem do tarot não é conhecida, mas evidências sugerem que as cartas, como as conhecemos, existem desde o século XV. O primeiro baralho de cartas de tarot conhecido, designado por Visconti-Sforza, é italiano; o segundo, e mais completo, é conhecido por baralho Charles VI, nome do rei de França da altura, apesar de haver dúvidas sobre se este também seria de origem italiana. A evidência mais remota de cartas para jogar parece estar no século IX, na China e, portanto, o tarot medieval poderá derivar destas cartas mais antigas.

Pensa-se que as cartas do tarot tenham sido usadas em jogos, conhecidos como tarocchi. A única evidência de que as cartas serviriam para adivinhar o futuro, remonta ao século XVIII, apesar de haver, por outro lado, evidências menos fortes de que esta utilização já existiria anteriormente.

As imagens simbólicas das cartas de tarot reflectem a cultura medieval e renascentista europeias, de onde, efectivamente, emergiram. Existe uma influência multicultural na Europa renascentista, incluindo o pensamento hermético que vem do antigo Egipto e da antiga Grécia, e de outros sistemas mânticos, como a Astrologia e a Cabala. Todos estes sistemas divinatórios teriam seguidores, e as imagens das cartas de tarot reflectem isto mesmo. Contudo, apesar de as cartas terem, claramente, estas raizes no passado mais antigo, há uma qualidade intemporal no simbolismo que contêm, e que se transmite a todas as culturas, assegurando a sua popularidade.

O baralho de Rider Waite Smith é um dos mais populares, criado em 1909 e desenhado pela artista Pamela Coleman Smith, de acordo com as intruções de Arthur Edward Waite, um académico, maçon livre e proeminente membro da Ordem Hermética do Amanhecer Dourado (Hermetic Order of the Golden Dawn). Constituído por 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores, o conjunto destas 78 magníficas cartas contêm os segredos ou mistérios que traduzem todos os aspectos e vicissitudes que podem caracterizar a nossa vida.

Nota: este post contém excertos, com tradução livre, do livro de Alice Ekrek, The Tarot Oracle, Copyright © 2012 Arcturus Publishing Limited


Miguel Mósca Nunes

31.10.24

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Trago-vos uma sugestão de leitura para esta época tão característica e adolescente. Voltada para tudo o que é assustador, esta história tem ingredientes que nos levam à nossa infância e nos trazem memórias de avós, daqueles Outonos frios e chuvosos preenchidos por leituras que se prolongavam até altas horas sem que os pais soubessem, por filmes de terror, e por doces e travessuras.

Sejam felizes e aproveitem todas as festas e celebrações que conseguirem. Nós por cá, aproveitamos todas as tradições, mesmo que não sejam portuguesas. Não temos qualquer problema em dizer que importámos o Halloween e o Thanksgiving.

Tudo serve para celebrar e estarmos juntos.


Miguel Mósca Nunes

27.10.24

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Vivemos uma era, que já conta com 50 anos, do que começou por ser uma democracia pendurada no Conselho da Revolução, que não deixava que o país avançasse, mas que depois passou a ser uma democracia de fachada, para alimentar uma corrupção insidiosa e corrosiva, delapiladora do património e desperdiçadora dos recursos.

Não vamos longe, porque olhamos para a esquerda e para a direita e não nos apetece atravessar a estrada - sabemos que acabaremos atropelados.


Miguel Mósca Nunes

26.10.24

 

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António Guterres é uma fraude, mais um medíocre a quem foi dado um papel importante e fundamental para o equilíbrio da ordem e estabilidade internacionais, que deveria pautar a sua atuação segundo a Carta das Nações Unidas, obedecendo aos princípios de independência e imparcialidade, mas que fracassou vergonhosamente na sua missão. Lamentável esta postura de vassalagem a Putin, depois das atitudes adoptadas perante Israel.
Mais um português que é uma vergonha para Portugal.


Miguel Mósca Nunes

24.10.24

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O Marco Paulo era a Voz, mas era muito mais do que isso. No único contacto que tivemos, foi um querido, amável e interessado no que lhe tínhamos para dizer. Por detrás das câmaras era o Marco, interessado pelo outro, em ouvir o outro, em olhar para o outro. E tinha, por acaso, um vozeirão de arrepiar.

Estávamos no intervalo, à espera para actuar, no seu jardim, onde decorriam as gravações do “Alô Marco Paulo”, um pouco afastados daquele pequeno palco de madeira e, de repente, ouvimo-lo cantar. Sim, o Marco Paulo, a canta a capella, sem microfone, a brindar aquelas trinta e poucas pessoas que estavam a assistir ao programa, o chamado “público”, com uma voz que não parecia sair dele, dada a projecção e potência. Nós estávamos mais afastados, a cerca de trinta metros, mas era como se estivessemos ao seu lado. “Rita, é o Marco Paulo que está a cantar!”.

Passados uns longos e ansiosos minutos gravámos o que lá fomos cantar. Cantar para o público ali presente e para a audiência do programa, mas, sobretudo, para ele. E esta certeza vem do que ouvimos a seguir, quando nos entrevistou, e no que nos disse depois, quando as câmaras não estavam a gravar. Volto a dizer, foi um querido, e deu-nos a imagem do que é ser um grande artista: humilde, simples, amável… boa pessoa.

Uma boa pessoa que, por acaso, tinha a melhor voz masculina que Portugal alguma vez ouviu.


Miguel Mósca Nunes

16.10.24

Fui a correr bater à porta da D. Emília, aflita, para lhe dizer que o Sr. Padre tinha falecido. Abriu a porta, perguntou "o que se passa, rapariga?" e ajoelhou-se assim que ouviu aquelas palavras duras e definitivas. Emília adorava o padre, idolatrava-o, amava-o.

Sempre que era possivel beijavam-se e tocavam-se, na sacristia, dentro da pequena casa-de-banho ou mesmo no meio da sala, normalmente encostados à maciça secretária. Quando não estava mais ninguém na igreja, nenhum acólito, religiosa ou devoto, entregavam-se um ao outro. Perdiam-se um no outro. Juravam que seria para sempre. E foi.

Nunca ninguém descobriu, sequer desconfiou. Houve um dia em que a coisa esteve quase às claras, numa tarde de chuva intensa, sem missa das dezoito, sem previsão de visitas. A sacristia tinha um tapete de arraiolos, que serviu de cama para um desvario incontrolável. Quando terminaram, ficaram deitados à conversa... ouviram uns passos que trouxeram a clara noção de que não tinham fechado a porta. Ele levantou-se à velocidade do som e foi mesmo a tempo de conter a chata da Cremilde, que gostava mais de estar entretida a acender velas e a contar o dinheiro do ofertório do que em casa a aturar o marido, de quem sentia nojo. Ela ainda entreabriu a porta mas nada viu. Estava mais preocupada com os fósforos que procurava e assustou-se com aquele empurrão que não sabia de onde vinha. "Senhor Padre! Senhor Padre?!", chamava, em pânico. Como não havia resposta, começou a ficar convencida de que quem tinha fechado a porta não era deste mundo e saiu da igreja a correr.

Trinta anos depois, sem querer saber da opinião alheia, chorava o seu amor, numa tarde de chuva intensa. Segurou na mão gelada do seu amado Luís, que ali deitado não era da Igreja... era seu. Beijou-o na boca e percebeu que ele já não estava naquele corpo. Não deu conta dos esgares de espanto das escandalizadas carpideiras e saiu da câmara ardente, para se atirar para a Formosa.

 


Miguel Mósca Nunes

06.08.24

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De acordo com o combinado, os dois amigos estacionaram as bicicletas mesmo em frente ao portão da Dona Leucádia, às dez para as três da tarde. Entretanto, ela já os estava a ver pela janela do quarto e abriu-a para lhes pedir que entrassem e colocassem as bicicletas dentro da propriedade, para que não fossem roubadas. Conforme tinham prometido, foram equipados com ténis e agasalhos, e levaram as mochilas, com sandes e garrafas de água, às quais Dona Leucádia juntou umas madalenas de maçã e canela.

 Enquanto esperavam que a dona da casa desse uma volta às várias divisões, para verificar se as janelas estavam todas fechadas, sentaram-se na cozinha e foram comendo o que estava por ali. Avelãs, passas, bolachas de amêndoa… os dois garotos pareciam umas trituradoras de comida.

 Eram três e meia da tarde quanto saíram de casa da velhota e iniciaram o percurso, sempre com as indicações de Dona Leucádia. Demoraram cerca de trinta minutos para saírem do Jerumelo e chegarem à estrada principal, que atravessaram. A partir daquela altura, entrariam na floresta. E foi o que fizeram.

 Percorreram uns escassos metros, e lá estava a coruja branca, pousada num pinheiro. A ave estava imóvel, com os seus olhos verde-escuros a observá-los.

 ― Dona Leucádia, veja quem está ali, naquele pinheiro ― disse João, fazendo com que Ricardo também olhasse na mesma direção.

 ― Credo, que coisa esquisita! ― exclamou Dona Leucádia. ― Ela acompanha-me sempre nestas idas a casa da Merinda. Sempre, sempre…

 ― É mesmo esquisito! ― afirmou Ricardo. ― Eu acho até que é assustador.

 ― Assustador?! ― perguntou João, querendo que Ricardo esclarecesse melhor o que queria dizer.

 ― Sim! Então, se a coruja aparece sempre que a Dona Leucádia vai a casa da bruxa e, ainda por cima, já a vimos a espreitar para dentro de casa…

 Quer João, quer Dona Leucádia acharam que Ricardo tinha razão. Havia qualquer coisa de muito estranho, assustador mesmo. De repente, a presença da coruja fê-los sentir um grande incómodo, levando-os a pensar a mesma coisa: o animal estava ali por uma razão qualquer, que eles não compreendiam, mas que existia.

 ― Será que ela nos está a vigiar?! ― questionou Ricardo, cortando os pensamentos dos outros dois.

 ― Credo, filho! Eu nem quero pensar numa coisa dessas! ― respondeu Dona Leucádia.

 ― Eu não a quero assustar, mas que é muito estranho, lá isso é ― concluiu Ricardo, enquanto observava a coruja branca. ― Olhem para aquilo, nem se mexe.

 Mas a seguir mexeu-se. Levantou voo, exibindo um deslumbrante batimento de asas, e os três exploradores ficaram a admirar a cena.

 ― Não acham que devemos continuar? ― perguntou João, tentando desviar a atenção do assunto assustador. ― Estamos a perder tempo, aqui parados, a olhar para uma coruja.

 ― Tens razão, filho, vamos continuar, que isto ainda leva algum tempo.

 ― Quanto tempo, Dona Leucádia? ― perguntou Ricardo.

 ― Depende… se a coisa correr bem, é para aí uma meia hora. Se a coisa correr mal…

 Os dois amigos entreolharam-se e fizeram, ao mesmo tempo, uma expressão de preocupação. «A aventura pode correr muito bem, ou muito mal…», repensou João, um pouco irritado com a resposta de Dona Leucádia. Estava a acreditar mais na segunda hipótese.

 Começaram a subir uma espécie de ladeira, com eucaliptos de um lado e do outro, onde existiam alguns troncos caídos que tiveram de pular. Dona Leucádia, para a idade que aparentava ter, tinha uma agilidade espantosa. Teve tanta facilidade quanto a dos dois jovens, quando se tratou de passar por cima dos troncos, coisa que estes acharam estranhíssima. Aliás, desde que tinham avistado a coruja que estavam a achar tudo muito estranho.

 Repentinamente, cheirava a chocolate.

― Hummmmm, que cheirinho tão bom… É este o cheiro que às vezes sentimos na Malveira ― disse João, a salivar.

 ― Sim, claro! A Merinda está ocupada há umas semanas largas a preparar tudo ― disse Dona Leucádia, não se apercebendo do olhar espantado dos ouvintes.

 ― A preparar tudo, o quê? ― perguntou Ricardo.

 ― Ora essa, os chocolates! ― exclamou Dona Leucádia, como se já tivesse falado com os rapazes sobre o assunto.

 De facto, já tinha falado imensas vezes sobre os chocolates, mas com outras pessoas da vila, que não acreditavam numa única palavra que dizia. Com os rapazes falara de vários pormenores, exceto deste.

 ― Mas que chocolates, Dona Leucádia? ― quis saber João, já um pouco impaciente.

 ― Os chocolates que as crianças recebem no dia 31 de outubro, por conta das partidas que foram fazendo. E também no Natal!

 ― Não posso acreditar! A sério?!

João estava excitadíssimo, lembrando-se dos chocolates que ainda tinha em casa.

 ― É a Merinda quem os prepara e os distribui ― completou Dona Leucádia.

 ― Por isso é que andou toda a gente doida, a querer saber quem tinha colocado os chocolates nos parapeitos! ― exclamou Ricardo.

 ― Sim! Já estavam com grandes teorias, a dizer que os pais tinham combinado tudo entre eles ― completou João. ― Afinal é a bruxa!

 ― Mas há amigos nossos que não receberam nada! ― disse Ricardo, intrigado.

 ― Isso é porque não pregaram uma única partida ― explicou Dona Leucádia.

 Os garotos, se fossem balões, há muito que teriam rebentado de tanto entusiasmo. Andaram mais uns dois quilómetros, sempre a conversarem com regozijo, porque finalmente estavam a perceber que os cheiros misteriosos que nos últimos tempos existiam na vila também tinham uma explicação. A apreensão causada pela coruja já tinha desaparecido.

De repente, estacaram os três. No caminho, estava um lobo, com um tamanho que os rapazes não julgavam possível naquela espécie, parado, a olhar para eles. Sem qualquer explicação, viram Dona Leucádia avançar até ao animal e começar a falar.

 ― Olá, meu menino! Tão querido o menino da avó. ― Dona Leucádia fazia festas e segurava o focinho do lobo. ― Quem é o menino mais lindo da sua vovó?!

 João e Ricardo estavam agora de queixo caído. Aquele ser que estava ali a receber festas teria mais meio metro do que Dona Leucádia, se se pusesse de pé, apoiado nas patas traseiras.

 ― Meus queridos, venham conhecer um dos meus amigos da floresta ― disse, felicíssima. ― Este acompanha-me de vez em quando. E não é estranho como a coruja ― concluiu, rindo-se à gargalhada.

 Com cautela, os garotos foram-se aproximando, mas à medida que estavam mais perto mais tranquilos ficavam. Até que deram por eles junto do animal, a fazer-lhe festas. A partir desta altura, caminharam sempre a quatro. Aos quarenta minutos de percurso, verificados no relógio de João, Dona Leucádia estava admirada com o facto de o caminho se estar a fazer tão bem, como quando o fazia sozinha. Habitualmente, quando ia com outras pessoas, as dificuldades começavam logo de início e até àquela altura ainda não tinham surgido as malditas falhas de memória.

 ― Dona Leucádia, estamos quase a chegar? ― perguntou João. ― É que já passou meia hora…

 ― Para espanto meu, parece que as coisas estão a correr muito bem. E já estou com fome.

 Resolveram fazer uma pausa para comer. E o lobo também lhes fez companhia, deliciando-se com as madalenas que Dona Leucádia lhe ia dando à boca. Uma considerável boca.

 Passado algum tempo, não se sabe quanto pois os relógios dos três exploradores tinham parado, para seu enorme espanto, retomaram o caminho e caminharam bastante até desembocarem numa clareira. Os olhares das três criaturas ficaram focados numa porta gigantesca, localizada a escassos metros dos seus pés.

 João e Ricardo não queriam acreditar no que estavam a ver.

 ― Meninos! Meninos! ― exclamou Dona Leucádia, felicíssima, com as faces roborizadas pelo entusiasmo. ― É a primeira vez! A primeira vez que consigo trazer aqui alguém!

 ― Então, e agora? ― perguntou Ricardo, olhando surpreendido para Dona Leucádia, que continuava a esbracejar e a voltear, parecendo uma adolescente a dançar, frenética, no baile de finalistas da escola.

 ― Nunca, mas nunca, tinha conseguido cá trazer alguém!

Dona Leucádia continuava naquele frenesim rodopiante.

 ― Vamos lá bater? ― perguntou João, num misto de receio, curiosidade e entusiasmo.

 ― Bater? ― Dona Leucádia parou. ― Oh, sim, bater… Sim, vamos bater à porta, claro.

 ― Tem certeza de que a Merinda não nos faz mal? ― perguntou Ricardo, com uma expressão carregada de quem estava com medo.

 ― Fazer mal, meu querido? ― perguntou, espantada, a velha senhora. ― Alguma vez?! A Merinda é um doce de pessoa. Vamos lá!

 Caminharam em direção ao casarão. Naquela clareira havia bastante folhagem no chão de terra ocre, e os três iam pisando alguns ramos secos e quebradiços, emitindo estalidos aqui e ali. O dia tinha escurecido, e o aspeto do arvoredo estava medonho. Pararam a alguns centímetros da imponente porta castanha escura, cheia de veios, alguns muito profundos.

 Dona Leucádia segurou no pesado batente de ferro ferrugento em forma de lua e, com algum esforço, fez soar três grandes pancadas.

 

in Merinda, Miguel Mósca, Edições Vieira da Silva, 2019


Miguel Mósca Nunes

23.07.24

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13 de Julho de 2024, 18 horas e 10 minutos, Pensilvânia.

̶   Está tudo preparado Mr. Trump…

̶   Vejam lá se não me lixo desta vez!

̶  Não se preocupe, está tudo a postos e as balas vão passar a uma distância de segurança mais do que suficiente…

̶  O que quer que isso signifique…  ̶    olhou de forma jocosa para o homem alto e robusto que estava à sua frente, elegantemente vestido de preto, com auriculares nos ouvidos e com um coldre escondido no flanco esquerdo, que albergava uma arma de calibre 9 mm.

̶  Não se esqueça de levar a mão à sua orelha assim que ouvir o primeiro disparo, Mr. Trump  ̶  falou ao mesmo tempo que procurava, nos olhos de quem estava à sua frente, a certeza de que a mensagem tinha sido compreendida  ̶  , basta pressionar, que a cápsula faz o resto.

O homem de preto agarrou a mão direita do portador de uma ambição desmedida e descontrolada pela presidência de um dos maiores países deste mundo retorcido, e colou a invisível cápsula na falange proximal do dedo médio. Passados cinco minutos, aquela figura estava a discursar em cima de um palanque, com uma crédula moldura humana à sua volta.

 

22 de Julho de 2024, 09 horas e 25 minutos, Washington, D.C.

̶  À conta daquele bandalho assassino, vou levar com horas a fio de um interrogatório vergonhoso!  ̶  disse Kimberly Cheatle, directora dos Serviços Secretos Americanos, ao mesmo tempo que se dirigia a passos largos para a Câmara dos Representantes, na Ala Sul do Capitólio.  ̶  O idiota está a destruir-nos, a comprometer irremediavelmente a nossa credibilidade e a levar-nos para o buraco!

À medida que se aproximava da sala, o rubor da sua face começava a ser visível, e lutava estoicamente contra a sua vontade de pedir a demissão.


Miguel Mósca Nunes

06.06.24

"Hitler viveu sempre num mundo de sonhos. Há muito pouco realismo político em Mein Kampf. Ele estava à margem da política, quase se pode dizer na margem lunática da política. O extremismo, o tipo de linguagem que usou, não é a linguagem de uma democracia parlamentar, e acho que isso deveria ter dado às pessoas uma pista sobre o quão indomável ele seria se chegasse ao poder, e como o usaria."
Em Hitler e os Nazis, serie documental em exibição na Netflix.

Isto deveria ser um abre-olhos, porque o que aqui se lê parece descrever o que se passa hoje em vários parlamentos europeus, onde lunáticos, com o apoio das suas turbas, debitam atrocidades a que não se tem dado importância, numa espécie de cegueira paternalista que vai tolerando o avanço insidioso de uma ideologia que alimenta as intenções dos insatisfeitos, dos que lutam todos os dias contra uma realidade a que os centralismos democráticos podres, incompetentes e corruptos, quer queiramos ou não admitir, os levaram.
Mas não é o extremismo que nos salvará.

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