“Há canções que vêm das pradarias de flores azuis e do pó de mil caminhos. Esta é uma delas”. Assim começa o romance de Robert James Waller, que deu origem a um dos mais sensíveis e arrebatadores filmes, na mais inusitada história de amor alguma vez vista no cinema. A história de um amor impossível, muito pouco convencional, principalmente por ser adúltero.
Estamos perante um filme, realizado por Clint Eastwood, que foi vendido como uma história antiga, leia-se antiquada, e talvez por isso pouco conhecido pelas gerações mais novas, mas que de tradicional tem muito pouco.
Falamos de um amor entre uma dona de casa frustrada, Francesca Johnson, e um fotógrafo profissional da National Geografic, Robert Kincaid, que se conhecem por acaso, durante uma ausência do marido e dos filhos da personagem feminina, num encontro que dura apenas quatro dias, algures em 1965, mas que teve repercussões para o resto das vidas das duas personagens. A partir daí ela passa a viver alimentada pelas recordações fechadas num baú, e ele dedica-se apenas ao trabalho, não tendo, até ao final da vida, nenhuma outra mulher.
Em 1982 a, então, viúva recebe uma carta do advogado do fotógrafo a comunicar o falecimento deste, a acompanhar uma caixa, na qual encontrou uma corrente de prata com uma medalha com o nome Francesca incrito, uma pulseira igualmente de prata (a inesquecível pulseira que fora alvo de especial atenção por parte de Francesca no primeiro encontro), as máquinas fotográficas que foram as ferramentas de trabalho de Robert, e uma carta, na qual o fotógrafo explica o vazio que foi a sua vida após aquele encontro no verão de 1965.
O advogado disse também que as cinzas de Robert foram espalhadas na ponte de Roseman, uma das pontes fotografadas para a National Geografic e na qual os amantes se conheceram no início daqueles inesquecíveis e inacreditáveis quatro dias, cumprindo o que fora estipulado em testamento. Só nessa altura Francesca percebeu a verdadeira dimensão do amor do fotógrafo.
Até à sua morte, em Janeiro de 1989, Francesca manteve o ritual de ver a caixa e o seu conteúdo no dia do seu aniversário.
O casting para o papel feminino principal foi relativamente difícil para Clint Eastwood, mesmo como realizador e actor principal do filme, que teve de argumentar, quase como um advogado numa delicada causa em pleno tribunal, perante uma muito relutante Warner Bros.
Tudo começou porque, segundo consta, uma grande amiga de Meryl Streep, a actriz Carrie Fisher, deu a Clint o número de telefone daquela. Clint sabia que estaria a contratar uma das melhores atrizes da actualidade, com uma versatilidade e uma profundidade interpretativa inigualáveis.
Apesar de a personagem feminina do livro ter 45 anos e a actriz ter essa mesma idade, a Warner considerava Meryl Streep muito velha para o papel. Para além disso, havia o receio de que a actriz não conseguisse captar o público necessário para tornar o filme um êxito de bilheteira.
O realizador não desistiu e Meryl fez uma das mais brilhantes interpretações da sua carreira, num papel pungente e cheio de sensualidade. Com o próprio Eastwood, construiu um dos pares mais verossímeis da história do cinema, cuja química transbordou todas as expectativas iniciais. Foi nomeada para o Óscar de melhor actriz. Não ganhou o Óscar, mas ganhou o Globo de Ouro. O filme rendeu na primeira semana de exibição nas salas de cinema americanas qualquer coisa como 10,5 milhões de dólares.
Consultando a wikipédia, há uma referência a uma suposta crítica da revista americana Entertainment Weekly ao livro, que penso caracterizar bem, quer o livro, quer o filme: diz que se trata de uma “curta e pungente história, comovente precisamente porque tem intensos picos de realismo” (tradução livre). De facto, estes são argumentos de peso, juntamente com o da banda sonora, composta por Lennie Niehaus, para quem ainda não viu As Pontes de Madison County.
Leia o livro ou veja o filme e chore, chore muito, com esta história de Amor.