Miguel Mósca Nunes
10.10.22
Através deste livro, transposto para o cinema, chega-nos uma história muito bem escrita por Kathryn Stockett, sobre a discriminação racial nos Estados Unidos, na década de 60 do século XX.
A obra vai muito para além do simples relato de acontecimentos, dando corpo a um romance com personagens fictícias baseadas em pessoas reais, como a empregada negra que a autora teve quando criança, a viver no Estado do Mississipi, um dos estados sulistas onde a segregação racial mais se fazia sentir na altura.
Mantém um registo sério mas hilariante, humano e rigoroso na descrição dos costumes da época, e é sublime na demonstração da futilidade e das aparências a mascarar uma maldade profundamente enraizada na sociedade americana, que ainda hoje não desapareceu. Mestre na progressão das suas personagens ao longo da narrativa, a autora vai desenrolando cada capítulo com uma densidade psicológica suficientes para arrebatar o leitor até ao final do livro.
Uma nota para a esperança que deposita no carácter e na bondade do Homem, e nos valores da igualdade, da solidariedade e da amizade, nomeadamente através das personagens de Aibileen Clark, Minny Jackson e Eugenia Phelan (Skeeter), e para o suspense criado pela reserva, quase até ao final, das consequências negativas para a mesquinha e oca Hilly Holbrook, de que os leitores estão à espera quase desde o momento em que a conhecem, logo no início da história.
Detenham-se na deliciosa cena da tarte, e no que tem de determinante para toda a trama. Inesquecível!