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Lately

Histórias, opiniões, desabafos, receitas...

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Histórias, opiniões, desabafos, receitas...


Miguel Mósca Nunes

03.12.22

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Caros leitores,

Porque estamos no Natal, trago-vos um livro sobre o espírito desta época. Trata-se de uma história sobre o infortúnio, a perda dos nossos entes queridos, mas também sobre a esperança e a forma como recuperamos dessa perda, com todas as resignificações e ajustes. É um livro sobre os valores e princípios que devem prevalecer para que permaneçamos boas pessoas, sobre o sacrifício dos pais e a luta que travam todos os dias para que os filhos estejam seguros e de boa saúde. Fala, sobretudo, sobre o amor. Sobre a esperança num mundo bem melhor, em que estejamos com os corações cheios de bem-querer. E sobre a redenção e o que ela pode fazer na vida de cada um de nós.

Glenn Beck, envolve-nos numa história comovente sobre um garoto que perde o pai, e que luta para sobreviver a essa terrível experiência, sem que a mágoa e o rancor o destruam. Garanto-vos que irão ler o livro de uma assentada. E, como o autor nos diz, “o melhor presente é qualquer presente oferecido com amor.”

Boas Festas!


Miguel Mósca Nunes

26.10.22

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No aproximar da quadra natalícia, onde os valores da fraternidade, da inclusão e da igualdade devem ser exaltados, fazendo frente à vocação, curiosamente muito humana, segregacionista e discriminatória, “O Diário de Anne Frank” surge como uma excelente leitura, principalmente para os jovens, podendo ser um óptimo presente. Mesmo para os mais resistentes aos livros.

O relato do dia-a-dia, num período de mais de dois anos, de um conjunto de judeus, escondidos num exíguo anexo, atirados dessa forma para uma condição sub-humana de existência, escrito por uma jovem na transição para a fase da adolescência, torna-se particularmente violento e torturante, quando o leitor sabe que o destino provável é a morte daquela família às mãos dos nazis. Porque a história é sobejamente conhecida, e porque o terror do Holocausto foi real e implacável. Impiedoso.

Mas o que o livro encerra, verdadeiramente, é a terrível e actual ameaça de um acontecimento que germinou nos mais profundos sentimentos de ódio e de rejeição da diferença, que é transversal à História da Humanidade, e que teve uma das suas mais negras expressões no nazismo alemão, que começou a crescer na República de Weimar (logo após a Primeira Guerra do Séc. XX). Nos dias de hoje, os sinais de que não mudámos permanecem assustadoramente vivos.

A oposição entre o bem e o mal é patente nesta obra, nas palavras de uma jovem encarcerada, com o objectivo de fugir aos horrores dos campos de concentração (não conhecia as razões últimas – escapar ao extermínio), com todos os motivos para descrer no seu futuro, mas que mantinha uma centelha de esperança, e tinha o desejo de ser melhor, no meio daquele circunstancialismo: “(…) todos os dias resolvo ser melhor”.

Apesar de tudo, acreditava na bondade Humana.

Boas leituras e feliz Natal.


Miguel Mósca Nunes

10.08.22

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Tive algumas dúvidas sobre se deveria escrever alguma coisa no dia de hoje. Porque é o dia do meu aniversário e pensei que não o deveria fazer. Hesitei, pensei... mas acabei por decidir escrever. Sobretudo porque é um imperativo de consciência, dado o panorama que nos rodeia. O horizonte é muito curto, com tantas manifestações de retrocesso civilizacional, tantos indícios de que estamos a perder direitos e a desrespeitar deveres, cada vez mais. Por estarmos a sofrer perdas irreparáveis no que diz respeito à cultura, aos ícones do feminismo e dos direitos humanos.

Com tantos absurdos ideológicos, com tantas aberrações de pensamento, com tantos idiotas a preleccionar obscuridades, numa Primavera murcha. Não deveria ser tempo do cair da folha. As lutas das últimas décadas estão a fracassar todas, perante um exército conservador, elitista, extremista e de pensamento balizado pela religião que lhes convém, interpretada à luz dos embustes e da perfídia que querem espalhar, criando metástases incuráveis.

Escrevo hoje porque tenho esperança de que haja uma inversão neste caminho espinhoso. Porque quero ser mais uma humilde semente da mudança, invocando o espírito de heróis, como Martin Luther King, Mahatma Gandhi ou Eleanor Roosevelt. Para exortar a consciência de cada um, num apelo à fraternidade que habita em todos nós, mais ou menos adormecida, a optar pelo bem. E o bem não está, certamente, na segregação, no racismo, na opressão, no impedimento à auto-determinação pessoal.

Tenhamos esperança...


Miguel Mósca Nunes

17.06.21

Capítulo III

 

 

   Num Domingo de Outubro encontrámo-nos na Avenida de Roma. Andámos por ali, sem rumo definido, só com o objectivo de desabafar uma com a outra.

   Falámos sobre o que nos ia na alma, ao mesmo tempo que fizemos comentários sobre os homens que passavam e sobre as montras de roupa. É curioso que, quando as mulheres que eu conheço falam dos homens, não o fazem da mesma forma que os homens quando estes falam das mulheres. O sentimento não é o mesmo. Ou se é o mesmo, não o escondem dos amantes. Acredito que seja assim para a maior parte de nós.

   Entre as duas, as apreciações não penetram no campo da nojeira dos comentários que os homens tecem. A maioria deles, mais ou menos discretos, são ordinários.

   Meu Deus, como são estúpidos. Basta passar por um grupo de homens que vão almoçar no intervalo do trabalho e escutar o que dizem para verificar que, mais uma vez, falam de mulheres. Muitas vezes atiram-nos ignomínias. E esta é uma faceta estanque, que não transparece na vida do santíssimo lar, para a respectiva mulher.

   Claro que este lado tão promíscuo e imundo não poderia ser transposto para as conversas ao serão e ao fim-de-semana, com a mulher e os filhos. Tem de ficar bem escondido, de segunda a sexta-feira, das nove às dezoito.

   Parece que esta gente anda a viver duas realidades distintas sendo que, no trabalho, com os colegas, ou no tempo livre, com os amigos, são pessoas expansivas, libertas e arejadas, tão arejadas ao ponto de a família ser arrastada para fora da memória pela ventania anestésica do vastíssimo campo visual.

   E, em casa, no conforto dos chinelos e do roupão, são recatados e uns fieis mentirosos. Haverá excepções?

   Parece que as mulheres estão a adquirir algumas características masculinas, das mais ridículas, mas tenhamos a esperança que seja uma percentagem muito reduzida. Não vamos, de oprimidas, passar para a estroinice e para a intrujice, sob a capa da emancipação.

   Esse seria um destino bastante redutor, o de passar de uma existência inteligente, cheia de sensibilidade, argúcia e paixão, para um lamaçal de mentira. Podemos experimentar vários homens ou mulheres, sem caminhar na falsidade.

   Bem sei que fomos escravizadas pelos homens e pelos seus malvados bons costumes, que só serviam para nós, mas a emancipação não significa perda de faculdades mentais!

   — Os homens são todos iguais — disse Madalena, com a habitual certeza que acompanha esta afirmação.

   —  Pois... sei lá, será que há excepções? Sabes, é muito fácil meter tudo em gavetinhas e catalogar as pessoas sempre da mesma maneira.

   — Ó Mafalda, tu não vês o Vitor! Está cada vez mais próximo do típico modelo masculino. — A sua expressão já estava a assumir a raiva que lhe mastigava as entranhas.

   — Tudo bem, pode ser que sim, mas ainda não falaste a sério com ele, não lhe disseste que estás insegura. Não lhe perguntaste o que é que ele anda a fazer.

   — Tenho medo.

   Fervilhava no meu espírito a inquietação de Madalena. Eu sentia que o Vitor fazia parte do mesmo rol de homens e que não seria a excepção.

   Depois de chegarmos à conclusão de que estávamos fartas do assunto, resolvemos divertir-nos e começar a fazer planos para o próximo fim-de-semana. Decidimos fazer uma viagem juntas para Portalegre, onde já tínhamos ido há bastante tempo. Seria bom passar pelos locais que tanto recordámos e comer aquelas migas deliciosas.

   Madalena tomou a decisão de não deixar passar mais tempo. Teria uma conversa séria com Vítor.

   Na segunda-feira seguinte, depois do trabalho, perto das sete horas da noite, foi ter a casa do namorado. Mal abriu a porta este fez logo uma expressão aparvalhada, esboçando um sorriso como que a pedir desculpa. Ele já tinha tentado falar com ela várias vezes, desde o último arrufo. Ligava para o telemóvel, ela não atendia. Falava com a D. Conceição pedindo para a filha lhe ligar. Este comportamento baralhava-a.

   Beijaram-se e ele avançou colocando os braços à volta da cintura de Madalena, apertando-a contra si. Estava a pedir sexo com uma capa de romantismo. Este era mais um dos tais pedidos de desculpas. Ela permaneceu calada por alguns segundos, olhando-o nos olhos e afastou-se, caminhando de seguida para a sala. Antes de se sentar, disse-lhe que tinham de conversar. Ele olhou-a, sério. Madalena apoderou-se do comando da televisão e desligou o estafermo do aparelho, sentando-se primeiro do que ele. Vitor sentou-se à beira do sofá com os dedos das mãos entrelaçados.

   Decidiu falar: — Eu sinto... desde há algum tempo a esta parte, que estás diferente.

   Vítor olhou-a com um ar surpreendido: — Diferente como?

   — Estás diferente. Ages comigo de forma diferente, estás frio. O teu comportamento mudou.

   — Eu não estou a perceber... o que é que se passa?

   — Nada. Só estás a anos-luz daquilo que eras para mim! Já não te interessa muito estar comigo, pois não? — Já que tinha começado, seria para doer.

   — Ó pá...é assim, eu não estou a perceber Madalena, tens andado esquisita e agora vens com essas coisas...

   — Claro, eu é que estou esquisita! Mas não sou eu que não quero namorar e sair para jantar fora e não sou eu que demonstro já não amar!

   — Ah, e eu demonstro isso? — perguntou, perplexo e encurralado.

   — Já não me amas pois não?

   — Mas porquê esta conversa — perguntou, aflito. — Explica-me!

   — Porque tu já não me amas! Tens outra?

   — O quê?!

   — Tens outra?

   — Não digas disparates! — ele levantou-se.

   — Responde! — ela levantou-se.

   — Não! Não tenho!

   — Não me estás a mentir?

   — Não tenho ninguém porra! — gritou.

   — Então porque é que não me ligas?

   — Mas eu ligo-te Madalena, eu ligo-te! — Vitor estava vermelho de cólera. E gritava.

   — Não me venhas com histórias! — Ela despejava as palavras, inclinada para a frente e com os punhos cerrados.

   — Mas que histórias Madalena, estás a ser estúpida! — Já se lhe notavam as veias do pescoço dilatadas. — Vamos falar com calma, por favor?

   — Não vale a pena, sabes. Porque eu acho que esta relação está nas últimas. — E decidiu arriscar. — Eu vi as tuas mensagens no telemóvel.

   Para surpresa dela, ele ficou em silêncio por uns instantes.

   — O que é que disseste? — perguntou Vitor, desarmado.

   — Vi as mensagens no teu telemóvel — repetiu ela, com uma firmeza encenada. Estava a fazer de tudo para manter a postura.

   — Agora andas a vasculhar o meu telemóvel?

   Madalena não estava preparada para ouvir esta pergunta, que lhe deu a certeza de que as desconfianças tinham fundamento. E, com os olhos húmidos, continuou a mentir: — Pois é, vasculhei.

   — Mas o que é que tu viste, Madalena? — perguntou Vitor com a voz trémula. — Merda… merda! Eu não queria…

   — Eu não vasculhei nada meu estúpido! Eu não vasculhei… — começou a chorar.

   — O quê? — Vitor olhava-a, espantado — o quê?!

   — Eu desconfiava, mas no fundo não acreditava que fosses capaz! — Madalena gritava a plenos pulmões. — Estúpido! Estúpido!

   — Pára… pára!

   — Para quê a mentira, Vitor? Porque não me disseste que seria melhor acabar?

   — Madalena…

   — Cala-te! Vou-me embora! — atirou, com a raiva a sair-lhe dos poros. — Espero que não me tenhas transmitido nenhuma doença, com a merda que andaste a fazer!

   Voltou costas e deixou-o, com uma decisão que não voltaria atrás. As recordações martelavam-lhe a cabeça no caminho para casa, numa condução nublada pelo cloreto de sódio, e nessa noite não dormiu até a mãe lhe dar um comprimido e ficar com ela deitada na cama. Dormiram abraçadas e de mãos dadas.

   Dias depois Mafalda enviou uma mensagem a Vitor para combinar uma ida lá a casa, para tirar as coisas dela, de preferência quando ele lá não estivesse.

   Passadas três semanas, Madalena foi ao apartamento, não respeitando o combinado. Apesar de terem terminado o namoro desta forma zangada, ela queria falar com ele.

   E falaram sem qualquer tipo de rancor da parte dela. A conversa foi serena, sem acusações e Madalena sentiu que foi o encerramento de um capítulo da sua vida, e foi menos doloroso do que ela pensava.

   Depois foi para Carcavelos e terminou a tarde a olhar o mar, sentada na esplanada a beber um gin tónico.

   Quanto ao Vitor, contactou-a pelo telemóvel mais duas vezes depois deste último encontro, a implorar que ela reconsiderasse, que voltasse para ele, porque ele já não tinha nada com a outra, que tinha sido um disparate muito grande e que não voltaria a ser estúpido e a cometer aquele erro.

   Madalena ouvira estas palavras com uma sensação estranhíssima, de não conhecer o homem com quem tinha namorado tanto tempo. Não parecia a mesma pessoa a falar. Era um discurso tão vulgar, daqueles que sempre ouviu nas novelas ou leu nos livros, e que não vira naquele que tinha sido o seu amor.


Miguel Mósca Nunes

28.05.21

Boa tarde a todos. Sou estreante! Lancei hoje o meu primeiro post neste blog que pretendo que sirva para pôr o leitor a sonhar, a viajar, a sorrir e a chorar. Quero mesmo emocionar. Em tempos de pouca esperança, quando as manifestações de ódio proliferam, com notícias de bullying, violência, segregação, homofobia e anti-semitismo a ferver, espero que apazigue desesperos. Sim, é só mesmo esta a minha intenção, porque eu sei que não haverá qualquer hipótese de fazer a diferença no sentido de melhorar a Humanidade.

Estamos perdidos há muito tempo e daqui a cinquenta anos estaremos na mesma... se ainda existirmos.

Por aqui vou largando opiniões e histórias, muitas histórias. Já temos uma a correr - Clarividência - de que publiquei o primeiro capítulo.

E, já agora, sou definitivamente contra o Acordo Ortográfico!

Excelente fim-de-semana, com muito cházinho, torradinhas e bons livros.

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