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Lately

Histórias, opiniões, desabafos, receitas...

Lately

Histórias, opiniões, desabafos, receitas...


Miguel Mósca Nunes

17.11.22

 

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Adele já ascendeu a um patamar onde muito poucos artistas chegam.

Esta cantautora é uma extraordinária manipuladora de emoções, através da maneira como canta, mas, sobretudo, através do que escreve, com uma densidade que a aproxima de Stevie Wonder, Paul McCartney ou Neil Young.

Easy On Me ou To Be Loved estão ao nível de Lately ou de Overjoyed, de The Long and Winding Road ou de Blackbird, de Heart of Gold ou de Philadelphia.

A métrica, a construção frásica, as figuras de estilo, a escolha das palavras, e a ordem como elas aparecem nos versos, são absolutamente geniais. Emocionam-nos de forma descontrolada, fazem-nos pensar nas questões essenciais das nossas vidas, elevando-nos a um plano onde pensamos que há muito poucas coisas que importam.

Cada vez que a ouço, faço um esforço para não me desmanchar, porque Adele é única no seu canto. A rouquidão e a potência misturadas com a técnica, permitem-lhe passar sucessivamente de voz de cabeça para voz de peito com uma perfeição inigualável, e brincar com as transições e com os falsetes como ninguém.

A juntar a esta mestria, existe a emoção, o lamento, a profundidade de uma voz que é das mais belas que já ouvi.

 


Miguel Mósca Nunes

09.08.22

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Desapareceu deste planeta, ou deste plano, ou, se quiserem, desta dimensão, há dias, Ana Luísa Amaral, uma das mais geniais poetas dos séculos XX e XXI. A sublime e transcendental escritora, com uma voz que dourava todas as palavras que dizia, das pessoas mais sensíveis e inteligentes que Portugal teve o privilégio de ter como cidadã.

Esta poeta embalava-me no caminho para casa, sempre que a ouvia, ao entardecer, no programa «O Som que os Versos Fazem ao Abrir» da Antena 2, com aquela maneira singular de falar, de sonorizar cada palavra, de entoar cada expressão e frase. A sensação que tinha era a de estar a ouvir uma eremita, porque só uma eremita teria tempo para reunir em si tanta sabedoria; uma enciclopédia de conhecimento, mas, sobretudo, de emoções. Quando penso em Ana Luísa Amaral é esta a imagem que me surge imediatamente: a ler, a escrever, mergulhada em pilhas de livros, saindo do templo só para, generosamente, nos encantar.

Mas, como é evidente, este meu ideal da poeta só persiste porque não tive o privilégio de a conhecer pessoalmente e de experienciar a afabilidade que deixava transparecer. Quem seria eu se tivesse sido seu aluno, ou estado presente no Ciclo de Masterclasses «Pessoa convida Pessoas» ou no momento em que recebeu o Prémio Rainha Sofia? Ou, então, assistido à justíssima homenagem da Feira do Livro do Porto, em Julho último? Fantasiando mais um pouco, quem seria eu se a tivesse acompanhado à livraria Lello ou a uma qualquer esplanada do seu amado Porto?

Ao ouvi-la, perdia a noção deste tempo terreno, limitado, cruel, inexorável. Talvez seja esta, também, uma das razões pelas quais era tão marcante e tão saboroso. Porque tinha, precisamente, a sensação de estar a ludibriar o tempo. Estivesse nesse idílio horas a fio, nunca me cansaria, impregnado daquela torrente de erudição, que me afastava langorosamente da realidade.

Porque o que dali brotava era contraponto da mísera mundaneidade. Era a Verdade.

Desapareceu mais um bastião da cultura, do feminismo e da luta contra a desigualdade. Lamentavelmente.

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