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Lately

Histórias, opiniões, desabafos, receitas...

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Histórias, opiniões, desabafos, receitas...


Miguel Mósca Nunes

17.07.24

A banda sonora do filme "Merry Christmas Mr. Lawrence", do brilhante Ryuichi Sakamoto, veio ter comigo através do youtube, e inundou-me de memórias da longínqua década de 80. O filme data de 1983 e conta com David Bowie. Sakamoto também já faleceu, passados 41 anos. Foi ontem que a música veio ter comigo, e tenho-a na cabeça até agora. Nela transparecem uma sensibilidade e uma genialidade que deixam marcas na alma. E estou nostálgico.

É curioso... não me lembro se fui ver este filme na altura, mas tenho quase a certeza de que o vi na tela grande, numa época em que reservava as férias do Verão para ir ao cinema, sozinho, por minha conta e sem interferência de ninguém, sem filtros, sem querer saber da idade recomendada. O mesmo acontecia com os livros, não havia limites ou censura - lia tudo o que me apetecesse.

Um solitário viajante no espaço e no tempo, através dos filmes e dos livros. Apanhava o autocarro nos Olivais e ia até aos cinemas Alfa, ao Londres, ao Império, ao Alvalade, ao S. Jorge, ao Condes, ao Eden, ao Monumental... o solitário sonhador que percorria as ruas de Lisboa cheio de pensamentos e de ideais, a acreditar num futuro brilhante. Na altura queria ir viver para Nova Iorque e viajar muito. Conhecer lugares, monumentos e museus, olhar para artefactos históricos.

Perco-me nestas memórias e vagueio infinitamente num tempo que já não é o meu, o tempo dos saudosos anos 80, como se estivesse adormecido.

Solitário.

 


Miguel Mósca Nunes

29.02.24

 

Ontem, ao explorar as fotos que tenho guardadas no google, deparei-me com algumas que acordaram a nostalgia e trouxeram uma saudade de me deixar de lágrimas nos olhos.

Fotos dos meus filhos, pequeninos, que me remetem para um tempo de tranquilidade e de idílio, quando saía do trabalho para os ir buscar, e regressávamos todos a casa, para tomar banho, jantar e depois lermos histórias ao deitar. Um tempo em que eu rejeitava sujeitar os meus filhos aos fastidiosos trabalhos de casa, porque sempre entendi que o ensino se esgotava na escola e não deveria tomar tempo aos pais, que precisam de estar com as suas crianças sem obrigações e sem condicionalismos. São crianças e precisam de tempos livres.

Hoje em dia fala-se tanto na conciliação da vida laboral e familiar mas esta lógica também se aplica às crianças, que precisam de brincar, de descansar, de pausar em relação às suas obrigações escolares, e de estar com os seus pais de uma forma descontraída. Contudo, parece que não há entendimento neste sentido. Os professores exigem que os pais entrem forçosamente na equação do ensino, e sejam responsáveis pelo prolongamento do estudo nas suas casas. Um absurdo, quando todos nós sabemos que chegamos a casa estafados e do que mais precisamos é de relaxar.

Como fui sempre contra isto, e um fervoroso crítico dos professores, sobretudo porque a minha experiência com eles nunca foi positiva, salvo raríssimas excepções, a minha postura sempre foi a de reduzir ao mínimo o disparate dos TPC. A estratégia foi a de aproveitar o ATL e os centros de estudo por onde os meus filhos passaram.

Juro que me estou a segurar nas críticas aos professores, mas não posso deixar de referir que os que encontrei pela frente deixaram muito a desejar nas suas capacidades técnicas e pedagógicas, para não falar daquelas que fazem um bom professor: bom-senso, empatia, imaginação, o tratar todos os alunos por igual e tentar estimular todos da mesma forma, não ter preferências, não discriminar, não diminuir os que têm mais dificuldades, e, sobretudo, gostar daquilo que se faz... gostar é pouco. Ser um apaixonado na sua missão!

Lembro-me sempre de uma história exemplar e ilustrativa do que acabo de escrever, que se passou comigo. Sempre fui um péssimo aluno a matemática, sobretudo porque a minha primária foi horrível, com uma professora que era uma imbecil, e que fazia das aulas um terror. Mas quando passei para a Escola Fernando Pessoa, nos Olivais, para aquilo a que agora se chama o quinto ano, e aproveitando a mudança, toda uma novidade, resolvi dar uma segunda oportunidade à matemática, que se veio a revelar a última. Foi a última porque, já no segundo período, lá consegui uma nota positiva num teste. Queria ter bons resultados, estava a gostar da matéria, e esforcei-me com gosto.

O que é que a idiota da professora fez? Quando me entregou o teste, à frente da turma inteira, disse que eu copiara ou cabulara para atingir aquele resultado. Aquela besta, em vez de aproveitar o momento para ganhar um aluno, perdeu-o para sempre. Infelizmente, há exemplos destes a rodos, de gente que não honra uma profissão tão especial e sensível.

Voltando às memórias que me deixaram de lágrimas nos olhos, ontem vi fotos dos meus queridos filhos ilustrativas de um tempo mágico que não volta mais.

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