Miguel Mósca Nunes
29.10.22
Luís Osório falha, pelos vistos de forma inconsciente e irresponsável, ao mostrar-se contra a liberdade de expressão que tanto alardeia, contrariando, curiosamente, tantos outros "Postais do Dia", nos quais defende o contrário.
Gustavo Santos tem tanto direito a exprimir as suas opiniões como qualquer outra pessoa que utilize as plataformas ao seu alcance, como o programa da Júlia Pinheiro.
Esta falta de imparcialidade é grave, sobretudo vinda de um jornalista e escritor, que deveria ser um estímulo para o debate de ideias e um veículo para mostrar pontos de vista diferentes.
Por outro lado, não aprecio o menosprezo implícito, a inferiorização, o achincalhamento velado, com que LO fala de GS (legendando, o uso das iniciais serve mesmo para evidenciar que estão em pé de igualdade, e para parodiar a maneira como os "Postais do Dia" são assinados).
Talvez Luís Osório seja, para desgosto e desilusão de imensos admiradores seus, um idiota. Talvez seja, afinal, um oportunista, fazendo-se passar por muito mais inteligente, colhendo frutos daquilo que escreve, que é, afinal, uma amalgama de contradições.
Chega ao ponto de dizer que Júlia Pinheiro é «cumplice de um pensamento que, no limite, foi responsável pela morte ou internamento de homens e mulheres concretos». Gravíssima esta afirmação, para quem deveria ter bom-senso, e ser, supostamente, um defensor da investigação jornalistica séria, que manda ter atenção a todas as correntes de pensamento e todas as possibilidades, por mais absurdas que possam parecer. Fala em movimentos que querem o fim da democracia, por propalarem teorias negacionistas e fake news, mas está equivocado... aparentemente, não está a ser muito democrático.
O que dirá Luís Osório sobre a obscura controvérsia da Pfizer, ou relativamente ao facto de haver médicos que, contrariando as indicações do início da pandemia, estão a desaconselhar a toma de mais vacinas por doentes com determinadas patologias. O que dirá perante a falta de estatísticas precisas sobre a mortalidade, e respectivas causas, nos últimos dez anos? O que dirá por não se saber, efectivamente, porque é que a mortalidade aumentou em 2020, 2021 e 2022, se por causa da pandemia Covid ou pela falta de assistência médica às outras doenças, ou pelo facto de o SNS estar nas lonas devido ao desmantelamento dos últimos trinta anos.
Como exemplo sobre a falta de explicação dos números, o INE, em 13 de Novembro de 2020, publicou esta informação: «Entre 2 de Março, data em que foram diagnosticados os primeiros casos com a doença COVID-19 em Portugal, e 1 de Novembro, registaram-se 77 249 óbitos em território nacional, mais 8 686 óbitos do que a média, em período homólogo, dos últimos cinco anos. Destes, 29,3% (2 544) foram óbitos por COVID-19». Então, a que se devem os outros 6 142 óbitos?
Não dá.
Simplesmente, não dá.