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Lately

Histórias, opiniões, desabafos, receitas...

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Miguel Mósca Nunes

09.08.22

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Desapareceu deste planeta, ou deste plano, ou, se quiserem, desta dimensão, há dias, Ana Luísa Amaral, uma das mais geniais poetas dos séculos XX e XXI. A sublime e transcendental escritora, com uma voz que dourava todas as palavras que dizia, das pessoas mais sensíveis e inteligentes que Portugal teve o privilégio de ter como cidadã.

Esta poeta embalava-me no caminho para casa, sempre que a ouvia, ao entardecer, no programa «O Som que os Versos Fazem ao Abrir» da Antena 2, com aquela maneira singular de falar, de sonorizar cada palavra, de entoar cada expressão e frase. A sensação que tinha era a de estar a ouvir uma eremita, porque só uma eremita teria tempo para reunir em si tanta sabedoria; uma enciclopédia de conhecimento, mas, sobretudo, de emoções. Quando penso em Ana Luísa Amaral é esta a imagem que me surge imediatamente: a ler, a escrever, mergulhada em pilhas de livros, saindo do templo só para, generosamente, nos encantar.

Mas, como é evidente, este meu ideal da poeta só persiste porque não tive o privilégio de a conhecer pessoalmente e de experienciar a afabilidade que deixava transparecer. Quem seria eu se tivesse sido seu aluno, ou estado presente no Ciclo de Masterclasses «Pessoa convida Pessoas» ou no momento em que recebeu o Prémio Rainha Sofia? Ou, então, assistido à justíssima homenagem da Feira do Livro do Porto, em Julho último? Fantasiando mais um pouco, quem seria eu se a tivesse acompanhado à livraria Lello ou a uma qualquer esplanada do seu amado Porto?

Ao ouvi-la, perdia a noção deste tempo terreno, limitado, cruel, inexorável. Talvez seja esta, também, uma das razões pelas quais era tão marcante e tão saboroso. Porque tinha, precisamente, a sensação de estar a ludibriar o tempo. Estivesse nesse idílio horas a fio, nunca me cansaria, impregnado daquela torrente de erudição, que me afastava langorosamente da realidade.

Porque o que dali brotava era contraponto da mísera mundaneidade. Era a Verdade.

Desapareceu mais um bastião da cultura, do feminismo e da luta contra a desigualdade. Lamentavelmente.


Miguel Mósca Nunes

23.02.22

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Tenho uma estranha ligação ao Porto. Pouco entendível ou explicável, porque terá que ver com as emoções, e às vezes não é fácil explicar emoções.

Sinto que lhe pertenço, apesar de ter lá ficado instalado, pela primeira vez, em Dezembro de 2019. Calcorreei as suas ruas cheias de granito, de magníficos e opulentos edifícios antigos, onde se respira um aroma diferente. Um aroma a orgulho de ser portuense, a força, a luta, a pátria. E apaixonei-me.

Sinto um irressistível ímpeto para largar tudo e dela fazer morada da minha alma, o meu abrigo de cultura, com contornos barrocos, que tanto se vê na arquitectura de Nicolau Nasoni. Voltarei a subir à Torre dos Clérigos, apesar da claustrofobia e dos nervos, ajoelhar-me-ei na incrível Igreja da Misericórdia de fachada coroada, e ficarei inebriado pela Igreja de Santo Ildefonso.

Voltarei a regozijar-me com o ambiente e a comida do Piolho (Âncora d’Ouro) e da Santa Francesinha.

Um Porto seguro e sentido, com um velho casario que nos deslumbra.

Um dia mudo-me para lá.

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